sábado, 21 de agosto de 2010

Guliliba, Missessá e Vara

Não havia computador ou vídeo-game, naquele tempo.
As famílias costumavam se reunir em suas salas para conversar e assistir televisão, ainda em preto-e-branco, enquanto as crianças sentavam ao chão para brincar com bonecas, cortar roupinhas de papel, fazer lanchinhos com seus joguinhos de chá de plástico, todos rebordados.
Mas Joaninha, aos 5 anos de idade, magrinha, lindo rostinho de porcelana, traços finos e delicados, elegeu seu brinquedo preferido: o liquidificador. Nem era porque queria fazer alguma guloseima para beliscar, até porque nunca foi muito afeita a comida, mas porque o liquidificador tinha um fio, que usava como se fosse seu telefone, de onde costumava ligar para seus amigos imaginários, o Guliliba, a Missessá e a Vara... Isso mesmo, os nomes que aquela garotinha inventou, para os amigos também inventados.
Eram horas pendurada naquele fio encostado junto ao ouvido, conversando frases sem o menor sentido, travando algumas discussões, muitas vezes gargalhando, num mundo fantasiado, mas que tornava aquela garotinha cheia de muita imaginação. Aquela era a sua realidade.
Joaninha estava sempre muito preocupada com os "amigos". Uma verdadeira amiga.
Mas era só na imaginação que aquilo existia.
Joaninha sente saudades daquela época.
Não sei se é uma pena ou se é muito bom os eletrônicos terem invadido a vida das crianças dessa maneira.
Que bom seria se pudessemos ainda sentar em volta da televisão para conversar, e ver as crianças brincando.
Saudosismo? Não sei, mas que era muito bom, ah, isso era!